quinta-feira, outubro 07, 2010

Miss Imperfeita :) > > (Texto na Revista do Jornal O Globo)

Miss Imperfeita :)
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> (Texto na Revista do Jornal O Globo)
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> 'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso
> é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss
> Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fa
> zer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trab
> alho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido
> o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver),
> telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo
> , vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails
> , faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamen
> te, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e a
> inda faço as unhas e depilação!
>
>
>
> E, entre uma coisa e outra, leio livros.
>
>
>
> Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
>
>
>
> Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas
> coisinhas que operam milagres.
>
>
>
> Primeiro: a dizer NÃO.
>
>
>
> Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa p
> or nada, aliás.
>
>
>
> Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua
> na sua lista a Culpa Zero.
>
>
>
> Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternid
> ade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você s
> eria modelo para os outros.
>
>
>
> Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tud
> o o que desejaram é que você não chorasse muito durante as
> madrugadas e mamasse direitinho.
>
>
>
> Você não é Nossa Senhora.
>
>
>
> Você é, humildemente, uma mulher.
>
>
>
> E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye
> -bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda
> lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar
> qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si
> a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.
>
>
>
> Tempo para fazer nada.
>
>
>
> Tempo para fazer tudo.
>
>
>
> Tempo para dançar sozinha na sala.
>
>
>
> Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
>
>
>
> Tempo para sumir dois dias com seu amor.
>
>
>
> Três dias.
>
>
>
> Cinco dias!
>
>
>
> Tempo para uma massagem.
>
>
>
> Tempo para ver a novela.
>
>
>
> Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produt
> os de beleza.
>
>
>
> Tempo para fazer um trabalho voluntário.
>
>
>
> Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
>
>
>
> Tempo para conhecer outras pessoas.
>
>
>
> Voltar a estudar.
>
>
>
> Para engravidar.
>
>
>
> Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será
> editado.
>
>
>
> Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfei
> tamente organizada e profissional sem deixar de existir.
>
>
>
> Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio
> de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa
> caixa postal.
>
>
>
> Existir, a que será que se destina?
>
>
>
> Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
>
>
>
> A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for s
> uper, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não
> será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-
> sei-quem..
>
>
>
> Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada
> pedacinho de si.
>
>
>
> Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
>
>
>
> Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser indepe
> ndente.
>
> Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre
> para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da
> semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a
> mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela ja
> nela.
>
>
>
> Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa
> Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
>
> Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso
> , francamente, está precisando rever seus valores.
>
>
>
> E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à b
> eira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser pra
> zeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, a
> final, uma vida interessante'
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> Martha Medeiros - Jornalista e escritora

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